A filha de três anos de um casal de meus amigos, que são negros, diz que quando ela crescer vai ser branca. Uma mulher negra do nosso grupo na Delegacia de Mulheres de Belo Horizonte diz que seus lábios são grossos excessivo para ela deixar a marca de sua boca no cartaz que produzimos juntas pra convidar outras mulheres para o grupo. Ela empresta seu batom para que, em vez de ela mesma, uma da gente-da equipe da Universidade – deixemos nossa marca no cartaz.
Outra mulher no grupo -assim como negra – comenta um dia que a amante do marido é italiana, sugerindo que isso torna superior sua angústia de ser traída. Essa mesma mulher, antes de me acompanhar, tinha a perspectiva de que eu, a psicóloga da UFMG, responsável por grupo-e, sendo assim, em uma posição de autoridade – fosse “mais clarinha” do que na verdade sou.
Outro dia, de manhã, a caminho da faculdade, ao passar de ônibus na Praça da Rodoviária, vi uma porção de policiais revistando um jovem negro sem camisa, algemado, encostado na parede, que chorava desesperado, falando sem parar. Morena, nem sequer pretinha/ Nem mulata sarará./ Lá não se briga/ Já que mulher/ Quem perde a sua/ Apanha a que quiser.
E, obviamente, assim como me lembro da outra música -muito conhecida – que fala que, pelo motivo de “a cor não pega”, é possível almejar o afeto da mulata, cujo cabelo não nega tua cor, que é uma invenção brasileira. Inicio este ensaio com alguns exemplos de minha experiência cotidiana neste local no Brasil pelo motivo de todos eles se referem a diferenças de etnia, raça e/ou cor. Porém, o que considero mais importante para pensarmos sobre isto as relações raciais no Brasil é que Arendt enfatiza que a pluralidade humana está intimamente associada à singularidade. Numa população que trata as pessoas como mercadorias, produzidas em série, é penoso dizer em singularidade e, desse jeito, é penoso comentar em pluralidade.
Ao invés ter mais detalhes, carecemos, logo, aprender a erguer as dúvidas que poderão abrir caminhos pra resolvermos os enormes dificuldades do racismo e tua complexa ligação com novas formas de dominação e exploração. Precisamos fazer questões e bem como, o que é muito sério, assimilar a escutar as respostas, com ouvidos abertos para a diferença. Esse me parece ser o enorme desafio da Psicologia neste início de século.
Escutar o outro, tocar no ar a emoção de perdição no rosto dos excluídos, mesmo que “de relance”, como fez Clarice com Macabéa. Enfim, escutar “o rugido da briga”, como nos propõe Foucault. É preciso ambicionar saber das verdades do outro e não ficarmos presos à mesmice de nossas verdades, tantas vezes apoiadas em benefícios. Neste ensaio, levanto outras dúvidas do ponto de visibilidade da geração de profissionais em Psicologia partindo de minha experiência como professora da disciplina Psicologia Social II no Departamento de Psicologia da FAFICH, UFMG.
Meu pretexto é que essa criação tem essencialmente desprezado a medida política do que constitui o instrumento principal da Psicologia, que é a construção do sujeito humano com uma identidade sexual, étnica/racial, e de categoria. Psicologia. A capa da revista mostra dois fedelhos pobres – um deles negro – deitados numa esteira no chão. Mesmo depois da Abolição, eles seguiram vivendo numa circunstância de pobreza extrema. As minorias bem como estão entre as principais vítimas da miséria. Metade dos desprezíveis brasileiros vive no Nordeste, geralmente pela zona rural de cidades muito pequenas. Negros/escravos, índios/minorias e nordestinos/ desprezíveis.
E a resposta vai ser buscada somente no funcionamento da economia. O plano real é considerado no postagem como sendo “uma das maiores realizações do presidente Fernando Henrique Cardoso”. Diante dessa calamidade proposta pelo postagem da revista de maior tiragem do País, é urgente levantarmos questões sobre o por quê dessa concentração de grupos específicos -negros, índios e nordestinos-nas faixas mais pobres.
- Redução do movimento dos braços ao andar
- 17 Pedido de verificação
- 19: Dinheiro Não Resolve Problemas Financeiros (0)
- 1 – Defina o foco
- Ah, você viaja sozinha? É uma coisa tipo “Comer, Rezar, SAmar”
E é propriamente no ensino público que essas perguntas devem ser levantadas. Porque, como argumenta Arendt, o significado de público se acha propriamente pela pluralidade, no encontro de seres humanos que são diferentes e ao mesmo tempo similares. É a partir desta pluralidade baseada em nossa singularidade que desejamos construir uma democracia que tenha uma inquietação com o bem comum, que não se contente com o mero implemento da lei e a não- interferência no certo dos outros.
Esse, como escreve Chantal Mouffe, é um projeto de “democracia radical e plural”, em que se cria uma articulação entre demandas de mulheres, negros/as, operárias/os, homossexuais, e outros. Trata-se de um projeto de democracia que se opõe ao sentido que a democracia tem no Liberalismo -“uma democracia que não fornece seriedade ao espírito público, à atividade cívica e à participação política pela comunidade de idênticos”, como escreve Mouffe.